Passeando presente dela pelas ruas de Sevilha, imaginou injetar-se
lembranças, como vacina, para quando fosse dali poder voltar a habitá-las,
uma e outras, e duplamente, a mulher, ruas e praças. Assim, foi entretecendo
entre ela, e Sevilha fios de memória, para tê-las num só e ambíguo tecido;
foi-se injetando a presença a seu lado numa casa, seu íntimo numa viela,
sua face numa fachada. Mas desconvivendo delas, longe da vila e do corpo,
viu que a tela da lembrança se foi puindo pouco a pouco; já não lembrava do que
se injetou em tal esquina, que fonte o lembrava dela,que gesto dela, qual rima.
A lembrança foi perdendo a trama exata tecida até um sépia diluído
de fotografia antiga. Mas o que perdeu de exato de outra forma recupera:
que hoje qualquer coisa de uma traz da outra sua atmosfera. João Cabral de Melo Neto